Tocar um instrumento musical de ouvido é uma habilidade fascinante e valiosa que permite aos músicos explorar a música de maneira mais intuitiva e criativa. Este processo requer tempo, dedicação e uma boa compreensão da teoria musical. Esta habilidade envolve a capacidade de identificar melodias, harmonias e ritmos sem a necessidade de partituras ou cifras. Vamos explorar os passos e técnicas que podem ajudar qualquer pessoa a desenvolver essa habilidade.
O primeiro passo para tocar de ouvido é desenvolver a capacidade de ouvir e reconhecer diferentes elementos musicais. Isso inclui:
A maneira mais fácil de tocar uma música de ouvido é simplificando sua harmonia. Experimente tocar músicas utilizando apenas os graus I, IV e V. Com o tempo, seu ouvido se acostumará com essas funções, permitindo que você adicione gradualmente os acordes relativos e outros elementos para enriquecer sua harmonia.
Sabemos que cada grau do campo harmônico, representa uma função harmônica que pode ser: forte, meio-forte e fraca. Se analisarmos a tabela abaixo, vamos ver que existem 3 graus que possuem função Forte (I, IV e V).
Função | Sensação | Forte | Meio-Forte | Fraca |
---|---|---|---|---|
Tônica T | Estabilidade | I | III, VI | |
Subdominante S | Movimento | IV | II | |
Dominante D | Instabilidade | V | VII |
E são esses graus (I, IV e V) que vamos utilizar para tocar nossa música de "ouvido", pois, todos os outros graus são maneiras "diferentes", de expressar as mesmas sensações: estabilidade, movimento e instabilidade.
Na realidade, se olharmos com atenção, dos quatro graus que sobraram (II, III, VI, VII), três são acordes relativos (tem praticamente as mesmas notas) dos graus que tem função forte.
Se analisarmos o grau que sobrou (VII), que pode ser diminuto (tríade) ou meio-diminuto (tétrade), e compararmos com o grau V, veremos que eles também têm algumas notas em comum, e é por esse motivo que o grau VII tem a mesma função do grau V.
Com isso, fica fácil entender, que em tese, TODA música poderá ser tocada somente com 3 acordes. Representados pelos graus I, IV e V.
Embora muitas músicas utilizem os acordes do campo harmônico de uma determinada tonalidade, é importante entender que nem todas as músicas seguem rigidamente essa estrutura. Em algumas composições, encontramos acordes que não pertencem ao campo harmônico da tonalidade principal. Esses acordes são conhecidos como empréstimos modais. Empréstimos modais ocorrem quando um acorde é "emprestado" de uma escala ou modo diferente do que está sendo usado predominantemente na música.
Por exemplo, se estamos tocando uma música em Dó maior (C), o campo harmônico incluiria os acordes C, Dm, Em, F, G7, Am, e B°. No entanto, você poderia encontrar acordes como Eb (Mi bemol maior) ou Bb (Si bemol maior), que não pertencem ao campo harmônico de Dó maior. Esses acordes emprestados podem criar uma sensação única e acrescentar cor à música. Um exemplo clássico de empréstimo modal é a progressão I-IV-bVII-IV, usada frequentemente no rock e pop, onde o acorde bVII (Bb em Dó maior) é emprestado do modo mixolídio, adicionando um som distinto e agradável à progressão harmônica. Falaremos mais sobre isso em um tópico específico sobre esse assunto.
Tocar um instrumento de ouvido é uma habilidade que pode ser desenvolvida com paciência e prática. Ao entender a teoria musical, focar na harmonia e praticar regularmente, você pode se tornar mais confiante e competente na arte de tocar sem cifras, explorando a música de maneira mais livre e criativa. Cada nova música aprendida de ouvido será um passo a mais em sua evolução musical.