Empréstimo Modal
O empréstimo modal é uma técnica fascinante e amplamente utilizada na composição musical que permite a incorporação de acordes de outros modos dentro de uma tonalidade predominante. Esta prática adiciona cor e variedade harmônica, enriquecendo a paleta sonora de uma peça musical. Neste artigo, exploraremos o conceito de empréstimo modal, sua aplicação e exemplos notáveis na música. AEM significa Acorde de Empréstimo Modal.
Em outras palavras, empréstimo modal refere-se ao uso de acordes de modos paralelos dentro de uma composição em uma tonalidade específica. Modos são escalas derivadas da escala maior, e cada modo tem uma característica tonal distinta. Os modos mais comuns são:
- Jônio (Maior)
- Dórico
- Frígio
- Lídio
- Mixolídio
- Eólio (Menor Natural)
- Lócrio
Quando um compositor usa acordes de um modo diferente dentro de uma tonalidade, ele está "emprestando" desses modos para criar variedade e surpresa harmônica.
Levando em conta todos os modos, há diversas alternativas de AEM que podem ser aplicadas em músicas. A seguir, confira os acordes dos campos harmônicos dos principais modos disponíveis no tom de Dó:
- Jônio (maior):
- I: C7M
- II: Dm7
- III: Em7
- IV: F7M
- V: G7
- VI: Am7
- VII: Bm7(b5)
- Dórico:
- I: Cm7
- II: Dm7
- III: Eb7M
- IV: F7
- V: Gm7
- VI: Am7(b5)
- VII: Bb7M
- Frígio:
- I: Cm7
- II: Db7M
- III: Eb7
- IV: Fm7
- V: Gm7
- VI: Ab7
- VII: Bbm7
- Lídio:
- I: C7M
- II: D7
- III: Em7
- IV: F#m7(b5)
- V: G7M
- VI: Am7
- VII: Bm7
- Mixolídio:
- I: C7
- II: Dm7
- III: Em7(b5)
- IV: F7M
- V: Gm7
- VI: Am7
- VII: Bb7M
- Eólio (menor):
- I: Cm7
- II: Dm7(b5)
- III: Eb7M
- IV: Fm7
- V: Gm7
- VI: Ab7M
- VII: Bb7
- Lócrio:
- I: Cm7(b5)
- II: Db7M
- III: Ebm7
- IV: Fm7
- V: Gb7M
- VI: Ab7
- VII: Bbm7
Na maioria dos casos, os AEM vêm do modo menor. Por isso, diversos autores consideram os AEM simplesmente como empréstimos desse modo.
Exemplos de progressões em Dó maior
- I - IV - IVm - I:
- C (I) - F (IV) - Fm (IVm, emprestado do modo menor) - C (I)
- Fm (iv) é um acorde menor emprestado do modo eólio (menor natural) de C, proporcionando um movimento harmônico descendente suave antes de retornar à tônica.
- I - BVII - IV - I:
- C (I) - Bb (bVII, emprestado do modo mixolídio) - F (IV) - C (I)
- Bb (bVII) é um acorde maior emprestado do modo mixolídio de C, que oferece um som distinto e resolve bem em F (IV).
- I - VI - BVI - V:
- C (I) - Am (vi) - Ab (bVI, emprestado do modo menor) - G (V)
- Ab (bVI) é um acorde maior emprestado do modo menor, criando uma sensação de movimento cromático e tensionado antes de resolver no dominante.
- I - V - IV - IVm:
- C (I) - G (V) - F (IV) - Fm (IVm, emprestado do modo menor)
- Fm (iv) emprestado do modo menor, cria uma mudança emocional interessante antes de retornar à tônica.
- I - V - BVII - IV:
- C (I) - G (V) - Bb (bVII, emprestado do modo mixolídio) - F (IV)
- Bb (bVII) do modo mixolídio proporciona um desvio harmônico interessante que leva suavemente de volta ao acorde de F (IV).
- I - IV - BVI - V:
- C (I) - F (IV) - Ab (bVI, emprestado do modo menor) - G (V)
- Ab (bVI) do modo menor adiciona uma cor harmônica rica antes de resolver em G (V), criando uma expectativa forte de retorno à tônica.
- I - BIII - IV - I:
- C (I) - Eb (bIII, emprestado do modo menor) - F (IV) - C (I)
- Eb (bIII) do modo menor adiciona um som inesperado e cativante que resolve suavemente de volta ao acorde de F (IV).
- I - V - IVm - VI:
- C (I) - G (V) - Fm (IVm, emprestado do modo menor) - Am (VI)
- Fm (iv) adiciona uma qualidade menor inesperada, criando um contraste emocional com o acorde de Am (VI).
- I - BVII - BIII - IV:
- C (I) - Bb (bVII, emprestado do modo mixolídio) - Eb (bIII, emprestado do modo menor) - F (IV)
- Bb (bVII) e Eb (bIII) emprestados do modo menor e mixolídio, respectivamente, criam uma progressão ricamente variada antes de resolver em F (IV).
- I - IV - II - BII:
- C (I) - F (IV) - Dm (II) - Db (bII, emprestado do modo frígio)
- Db (bII) do modo frígio oferece uma sonoridade exótica e tensa, antes de voltar ao acorde de tônica ou de resolver em outro acorde.
Empréstimo Modal em Tonalidades Menores
Em tonalidades menores, o empréstimo modal funciona de maneira semelhante, trazendo acordes de modos paralelos para adicionar cor e variedade harmônica. Aqui estão algumas dicas para o uso de empréstimos modais em tonalidades menores, com exemplos na tonalidade de Lá menor (Am).
- Acorde de IV em tonalidades menores: O acorde de quarta maior (IV) pode ser emprestado do modo dórico. Em Lá menor (Am), o acorde de Ré maior (D) é emprestado do modo dórico.
- Exemplo: Am (i) - D (IV) - G (VII) - Am (i)
- Acorde de bVII em tonalidades menores: O acorde de sétima menor (bVII) é frequentemente usado. Em Lá menor (Am), o acorde de Sol maior (G) é emprestado do modo eólio.
- Exemplo: Am (i) - G (bVII) - F (VI) - Am (i)
- Acorde de bVI em tonalidades menores: O acorde de sexta menor (bVI) pode ser emprestado do modo eólio. Em Lá menor (Am), o acorde de Fá maior (F) é emprestado do modo eólio.
- Exemplo: Am (i) - F (bVI) - G (bVII) - Am (i)
- Acorde de III em tonalidades menores: O acorde de terça maior (III) pode ser emprestado do modo eólio. Em Lá menor (Am), o acorde de Dó maior (C) é emprestado do modo eólio.
- Exemplo: Am (i) - C (III) - F (bVI) - G (bVII)
- Acorde de v em tonalidades menores: O acorde de quinta menor (v) pode ser emprestado do modo dórico. Em Lá menor (Am), o acorde de Mi menor (Em) é emprestado do modo dórico.
- Exemplo: Am (i) - Em (v) - D (IV) - Am (i)
- Acorde de I em tonalidades menores: O acorde de tônica maior (I) pode ser emprestado do modo eólio. Em Lá menor (Am), o acorde de Lá maior (A) é emprestado do modo eólio.
- Exemplo: Am (i) - A (I) - F (bVI) - G (bVII)
- Acorde de bII em tonalidades menores: O acorde de segunda menor (bII) pode ser emprestado do modo frígio. Em Lá menor (Am), o acorde de Si bemol (Bb) é emprestado do modo frígio.
- Exemplo: Am (i) - Bb (bII) - G (bVII) - Am (i)
- Acorde de bVII7 em tonalidades menores: O acorde de sétima menor dominante (bVII7) pode adicionar uma cor interessante. Em Lá menor (Am), o acorde de Sol sete (G7) é emprestado do modo mixolídio.
- Exemplo: Am (i) - G7 (bVII7) - F (bVI) - E (V)
- Acorde de IV7 em tonalidades menores: O acorde de quarta maior dominante (IV7) pode adicionar uma tensão interessante. Em Lá menor (Am), o acorde de Ré sete (D7) é emprestado do modo dórico.
- Exemplo: Am (i) - D7 (IV7) - G (bVII) - Am (i)
- Acorde de VI em tonalidades menores: O acorde de sexta maior (VI) pode ser emprestado do modo eólio. Em Lá menor (Am), o acorde de Fá maior (F) é emprestado do modo eólio.
- Exemplo: Am (i) - F (VI) - C (III) - G (bVII)
Aplicação do Empréstimo Modal
A aplicação do empréstimo modal pode ser observada em diversos gêneros musicais, desde a música clássica até o jazz, rock e pop. Abaixo estão alguns exemplos práticos de como o empréstimo modal pode ser utilizado:
- Música Clássica: Muitos compositores clássicos utilizam o empréstimo modal para criar tensão e resolução em suas obras. Beethoven, por exemplo, usava frequentemente acordes emprestados para adicionar profundidade emocional.
- Jazz: No jazz, o empréstimo modal é uma ferramenta comum para adicionar complexidade harmônica. Músicos de jazz frequentemente usam acordes emprestados para improvisar e criar novas progressões harmônicas.
- Rock e Pop: Bandas de rock e artistas pop também utilizam o empréstimo modal para criar sonoridades únicas e memoráveis. O uso de acordes menores em progressões maiores é uma técnica comum para criar contraste e interesse.
Improvisação sobre acordes de empréstimo modal
Conhecer os Acordes Emprestados Modais (AEM) mais comuns é muito útil, pois permite memorizar os graus e saber automaticamente o que utilizar em cada situação. Embora improvisar sobre os AEM pareça fácil na teoria, já que basta identificar a origem do empréstimo modal e tocar a escala correspondente ao acorde, a prática exige rapidez na identificação do modo emprestado para escolher a escala correta. Essa familiaridade com os AEM reduz surpresas durante o improviso e enriquece o repertório musical. Com prática e experiência, seus reflexos se tornarão mais rápidos e precisos.
Conclusão
O empréstimo modal é uma técnica poderosa na composição musical que permite a exploração de novos territórios harmônicos. Ao entender e aplicar o empréstimo modal, músicos e compositores podem adicionar profundidade e variedade às suas criações, proporcionando uma experiência auditiva mais rica e envolvente. Seja na música clássica, jazz, rock ou pop, o empréstimo modal continua a ser uma ferramenta valiosa e inspiradora no arsenal de qualquer músico.